O falar é, na melhor das hipóteses, uma mentira honesta.
Naronda: Passados os três dias, nós Sete, como que impelidos por uma força irresistível, tornamos a reunir-nos e encaminhamo-nos ao Ninho da Águia. O Mestre nos saudou como quem estava certo de que viríamos.
Mirdad: Mais uma vez vos dou as boas vindas, filhotes implumes de volta ao ninho. Dizei a Mirdad os vossos pensamentos e vossos desejos.
Micayon: Nosso único pensamento e desejo é estar perto de vós Mirdad, a fim de que possamos sentir e ouvir a verdade - para que, talvez, possamos tornar-nos sem sombra, tal como vós o sois. O vosso silêncio, no entanto, nos constrange a todos nós. Por acaso vos ofendemos de algum modo?
Mirdad: Não foi para vos afastar de mim que me conservei em silêncio durante três dias, mas para vos trazer para mais perto de mim. Quanto a me haverdes ofendido, aquele que conhece a paz invencível do Silêncio, jamais pode ser ofendido ou ofender.
Micayon: É melhor calar do que falar?
Mirdad: O falar é, na melhor das hipóteses, uma mentira honesta. Ao passo que o silêncio é, no pior dos casos, uma verdade nua.
Abimar: Devemos disto concluir que até mesmo as vossas palavras, Mirdad, conquanto honestas, são simplesmente mentiras?
Mirdad: Infelizmente nada mais são do que mentiras para aqueles cujo eu não é o mesmo que o EU de Mirdad. Enquanto todos os vossos pensamentos não forem como pedras extraídas da mesma pedreira e todos os vossos desejos como água extraída do mesmo poço, vossas palavras serão, conquanto honestas, simplesmente mentiras.
Quando o vosso eu, o meu eu e o de Deus forem um só, dispensaremos as palavras e
comungaremos perfeitamente no Silêncio da verdade.
Como, porém, o vosso eu e o meu não são o mesmo, sou constrangido a desferir contra vós uma guerra de palavras, para que vos possa vencer com vossas próprias armas e vos levar à minha pedreira e ao meu poço.
E somente assim podereis ir para o mundo, vencê-lo e subjugá-lo como eu vos haja vencido e subjugado. E somente assim sereis preparados para guiar o mundo ao silêncio da Consciência Suprema, para a pedreira da Palavra, para o poço da Sagrada Compreensão.
Enquanto não fordes assim vencidos por Mirdad não vos tornareis inexpugnáveis na verdade e poderosos conquistadores. Nem a palavra poderá lavar-vos da ignomínia de sua contínua derrota, a não ser quando houver sido derrotada por vós.
Cingi-vos, pois, para a batalha. Bruni vossos escudos e vossas armaduras e afiai vossas espadas e vossas lanças. Deixai, também, que o Silêncio bata o bombo e carregue o estandarte.
Bennoon: Que espécie de Silêncio é este que irá bater o bombo e a carregar o estandarte?
Mirdad: O silêncio no qual eu vos farei entrar é aquela expansão infinita na qual o não-ser passa a Ser e o Ser passa a não-ser. É aquele vácuo pavoroso onde todo o som nasce e é abafado; onde toda forma é moldada e esmagada; onde toda personalidade é criada e esmagada; onde todo Ser é elevado e abatido;
em que nada é mais do que ISTO. A não ser que atravesseis esse vácuo e essa expansão em contemplação silenciosa, não sabereis quão real é o vosso Ser, nem quão irreal o não-ser. Nem sabereis quão ligada está a vossa realidade com toda a Realidade.
É nesse Silêncio que espero que vagueis, para que possais abandonar a vossa pele velha e apertada e possais a andar sem grilhões, irrestritos.
Para ele almejo que leveis os vossos cuidados, receios, paixões e desejos, vossas invejas e vossas luxurias, para que as possais ver desaparecer uma a uma, libertando, assim, os vossos ouvidos dos seus gritos incessantes e livrando os vossos flancos da dor de suas afiadas esporas.
É ali que desejo jogueis os vossos arcos e flechas deste mundo, com os quais esperais caçar alegria e satisfação e na realidade só caçais o desassossego e a tristeza.
É ali que espero vós rastejeis para fora da tenebrosa e sufocante concha do eu, para a luz e o ar livre do EU.
É esse Silêncio que vos recomendo, e não um mero descanso de vossas línguas cansadas de tagarelar.
É o silêncio fecundo da Terra que vos recomendo, e não o apavorante silêncio do criminoso e do velhaco.
O Silêncio paciente da galinha que choca é que vos recomendo, é não o impaciente cacarejar de sua irmã que bota. Aquela se mantém quieta durante vinte e um dias e espera numa silenciosa confiança que a Mão Mística realize o milagre debaixo de seu fofo peito e de suas macias asas. A outra salta do ninho e cacareja loucamente, anunciando que pôs um ovo.
Cuidado com a glória cacarejante, companheiros. Assim como silenciais as vossas vergonhas, silenciai também as vossas glórias, pois a glória cacarejante é pior que a vergonha em silêncio e a virtude apregoada é pior do que a iniqüidade muda.
Evitai o demasiado falar. Em cada mil palavras pronunciadas, às vezes só há uma única que verdadeiramente é necessário pronunciar. As restantes só servem para nublar a mente, entupir o ouvido, cansar a língua e cegar o coração.
Como é difícil dizer a palavra que realmente deve ser dita! Em cada mil palavras que se escrevem, às vezes só há uma, que verdadeiramente é necessário escrever! As restantes são somente tinta e papel desperdiçados e minutos aos quais se deu pés de
chumbo em vez de asas de luz.
Como é difícil, oh! como é difícil escrever a palavra que realmente deve ser escrita!
Naronda: Passados os três dias, nós Sete, como que impelidos por uma força irresistível, tornamos a reunir-nos e encaminhamo-nos ao Ninho da Águia. O Mestre nos saudou como quem estava certo de que viríamos.
Mirdad: Mais uma vez vos dou as boas vindas, filhotes implumes de volta ao ninho. Dizei a Mirdad os vossos pensamentos e vossos desejos.
Micayon: Nosso único pensamento e desejo é estar perto de vós Mirdad, a fim de que possamos sentir e ouvir a verdade - para que, talvez, possamos tornar-nos sem sombra, tal como vós o sois. O vosso silêncio, no entanto, nos constrange a todos nós. Por acaso vos ofendemos de algum modo?
Mirdad: Não foi para vos afastar de mim que me conservei em silêncio durante três dias, mas para vos trazer para mais perto de mim. Quanto a me haverdes ofendido, aquele que conhece a paz invencível do Silêncio, jamais pode ser ofendido ou ofender.
Micayon: É melhor calar do que falar?
Mirdad: O falar é, na melhor das hipóteses, uma mentira honesta. Ao passo que o silêncio é, no pior dos casos, uma verdade nua.
Abimar: Devemos disto concluir que até mesmo as vossas palavras, Mirdad, conquanto honestas, são simplesmente mentiras?
Mirdad: Infelizmente nada mais são do que mentiras para aqueles cujo eu não é o mesmo que o EU de Mirdad. Enquanto todos os vossos pensamentos não forem como pedras extraídas da mesma pedreira e todos os vossos desejos como água extraída do mesmo poço, vossas palavras serão, conquanto honestas, simplesmente mentiras.
Quando o vosso eu, o meu eu e o de Deus forem um só, dispensaremos as palavras e
comungaremos perfeitamente no Silêncio da verdade.
Como, porém, o vosso eu e o meu não são o mesmo, sou constrangido a desferir contra vós uma guerra de palavras, para que vos possa vencer com vossas próprias armas e vos levar à minha pedreira e ao meu poço.
E somente assim podereis ir para o mundo, vencê-lo e subjugá-lo como eu vos haja vencido e subjugado. E somente assim sereis preparados para guiar o mundo ao silêncio da Consciência Suprema, para a pedreira da Palavra, para o poço da Sagrada Compreensão.
Enquanto não fordes assim vencidos por Mirdad não vos tornareis inexpugnáveis na verdade e poderosos conquistadores. Nem a palavra poderá lavar-vos da ignomínia de sua contínua derrota, a não ser quando houver sido derrotada por vós.
Cingi-vos, pois, para a batalha. Bruni vossos escudos e vossas armaduras e afiai vossas espadas e vossas lanças. Deixai, também, que o Silêncio bata o bombo e carregue o estandarte.
Bennoon: Que espécie de Silêncio é este que irá bater o bombo e a carregar o estandarte?
Mirdad: O silêncio no qual eu vos farei entrar é aquela expansão infinita na qual o não-ser passa a Ser e o Ser passa a não-ser. É aquele vácuo pavoroso onde todo o som nasce e é abafado; onde toda forma é moldada e esmagada; onde toda personalidade é criada e esmagada; onde todo Ser é elevado e abatido;
em que nada é mais do que ISTO. A não ser que atravesseis esse vácuo e essa expansão em contemplação silenciosa, não sabereis quão real é o vosso Ser, nem quão irreal o não-ser. Nem sabereis quão ligada está a vossa realidade com toda a Realidade.
É nesse Silêncio que espero que vagueis, para que possais abandonar a vossa pele velha e apertada e possais a andar sem grilhões, irrestritos.
Para ele almejo que leveis os vossos cuidados, receios, paixões e desejos, vossas invejas e vossas luxurias, para que as possais ver desaparecer uma a uma, libertando, assim, os vossos ouvidos dos seus gritos incessantes e livrando os vossos flancos da dor de suas afiadas esporas.
É ali que desejo jogueis os vossos arcos e flechas deste mundo, com os quais esperais caçar alegria e satisfação e na realidade só caçais o desassossego e a tristeza.
É ali que espero vós rastejeis para fora da tenebrosa e sufocante concha do eu, para a luz e o ar livre do EU.
É esse Silêncio que vos recomendo, e não um mero descanso de vossas línguas cansadas de tagarelar.
É o silêncio fecundo da Terra que vos recomendo, e não o apavorante silêncio do criminoso e do velhaco.
O Silêncio paciente da galinha que choca é que vos recomendo, é não o impaciente cacarejar de sua irmã que bota. Aquela se mantém quieta durante vinte e um dias e espera numa silenciosa confiança que a Mão Mística realize o milagre debaixo de seu fofo peito e de suas macias asas. A outra salta do ninho e cacareja loucamente, anunciando que pôs um ovo.
Cuidado com a glória cacarejante, companheiros. Assim como silenciais as vossas vergonhas, silenciai também as vossas glórias, pois a glória cacarejante é pior que a vergonha em silêncio e a virtude apregoada é pior do que a iniqüidade muda.
Evitai o demasiado falar. Em cada mil palavras pronunciadas, às vezes só há uma única que verdadeiramente é necessário pronunciar. As restantes só servem para nublar a mente, entupir o ouvido, cansar a língua e cegar o coração.
Como é difícil dizer a palavra que realmente deve ser dita! Em cada mil palavras que se escrevem, às vezes só há uma, que verdadeiramente é necessário escrever! As restantes são somente tinta e papel desperdiçados e minutos aos quais se deu pés de
chumbo em vez de asas de luz.
Como é difícil, oh! como é difícil escrever a palavra que realmente deve ser escrita!
Fonte: O livro de Mirdad, Cap.12.
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