14 de fev. de 2009

O QUE É A GNOSE

Gnose é o substantivo do verbo gignósko, que significa conhecer. Gnose é conhecimento superior, interno, espiritual, iniciático. No grego clássico e no grego popular, koiné, seu significado é semelhante ao da palavra epistéme. Em filosofia, epistéme significa "conhecimento científico" em oposição a "opinião", enquanto gnôsis significa conhecimento em oposição a "ignorância", chamada de ágnoia.

A gnose é um conhecimento que brota do coração de forma misteriosa e intuitiva. É a busca do conhecimento, não o conhecimento intelectual, mas aquele conhecimento que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna e maravilhosa.

O objeto do conhecimento da Gnose é Deus, ou tudo o que deriva dEle. Toda gnose parte da aceitação firme na existência de um Deus absolutamente transcendente, existência que não necessita ser demonstrada. "Conhecer" significa ser e atuar, na medida do possível ao ser humano, no âmbito do divino. Por isso, "conhecer" implica a salvação de todo o mal (Ego) em que possa estar imerso o homem que venha a possuir esse "conhecimento".

Gnose é ao mesmo um conceito religioso e psicológico, além de científico, filosófico e artístico. A partir desta visão, o significado da vida aparece como uma transformação e uma visão interior, um processo ligado ao que hoje se conhece como psicologia profunda.

O desejo e as tentativas de conseguir amor e felicidade são a saudade inesgotável do Pleroma, ou seja, da Plenitude do Ser, que é o verdadeiro lar da alma. O desejo desse "conhecimento" é uma nostalgia das origens e procede de um original anelo humano de alcançar a Unidade, do desejo natural, perrene e universal, de fusão do homem com o Ser, do qual acredita ter sido originado.

A Gnose é o comportamento religioso que traduz esta profunda e dolorosa sensação que sentem os homens e mulheres pela separação dos pólos humano e divino. É, no fundo, uma tentativa de compreensão das relações entre o homem e a divindade.

Para Jung, muitos gnósticos nada mais eram do que psicólogos. "A gnose é, indubitavelmente, um conhecimento psicológico, cujos conteúdos provêm do inconsciente. Ela chegou às suas percepções através de uma concentração da atenção sobre o chamado "fator subjetivo" que consiste, empiricamente, na ação demonstrável do inconsciente sobre a consciência. Assim se explica o surpreendente paralelismo da simbologia gnóstica com os resultados a que chegou a psicologia profunda".

OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA TEOLOGIA GNÓSTICA
Os princípios gnósticos (do gnosticismo ocidental, da vertente ocidental, bem entendido) têm seu fundamento filosófico em Platão. Para Platão, as idéias, independentemente das coisas e do intelecto humano, são as causas temporais para os objetos sensíveis. As idéias ou formas são entidades incorpóreas e invisíveis, reais, eternas e sempre idênticas a si mesmas, escapando à ação corrosiva do tempo, que torna os objetos físicos perecíveis. Ou seja, nosso mundo tridimensional tem uma origem, um molde, e esse molde é a realidade verdadeira, e não o mundo físico.

Para Platão, porém, os primeiros Princípios, o mundo das idéias, têm a função de objeto do conhecimento. Valem para explicar a realidade física tanto da esfera superior como do mundo. Mais tarde, os sucessores de Platão, baseando-se no Uno, como princípio transcendente, alteraram estas bases do platonismo antigo. Os princípios que eram, para Platão, objetos ou meios de conhecimento passarem a ser considerados uma entidade real, dignos de veneração, que poderiam produzir outros seres por meio de geração ou de emanação. O Uno passou a ser objeto real que poderia produzir outros seres através da emanação ou geração.

Para Piñero e Montserrat, estes dois momentos, a passagem de objeto a sujeito e a possibilidade da geração/emanação, ocorrem em todas as vertentes do platonismo e leva a profundas divergências. Alguns grupos gnósticos prescindem do Uno e consideram dois princípios: o Intelecto e a Alma divinos, o que significa uma concepção diádica. Outros grupos mantêm a existência do Uno, porém afirmam que o Uno gera o Intelecto e a Alma como entidades independentes. Os Princípios primeiros formariam, sob este ponto de vista, uma tríade, Uno, Intelecto e Alma (ou, segundo a ritualística gnóstica, Espírito, Mente e Razão). E ambos os sistemas consideram uma divisão da Alma em duas subentidades:

Uma Alma superior e uma Alma inferior ou Alma do mundo.

Os que consideram os três Princípios (Uno, Intelecto, Alma do Mundo) insistem que o Primeiro, o Uno, é o Sumo Transcendente, além do ser e do inteligível. Defendem um processo de descida dos Princípios superiores aos inferiores através da emanação ou geração. O segundo Princípio é o Intelecto e contém em si todos os inteligíveis. O terceiro é a Alma/Espírito, que pode ser concebido como dois subprincípios, uma Alma Inteligível e uma Alma do Mundo.

Este sistema triádico aproxima os gnósticos cristãos à Trindade do Novo Testamento. O Deus Supremo, primeiro Princípio, corresponde ao Deus Pai. O segundo Princípio, o Intelecto, corresponde ao Filho, é o Logos, que se faz homem em Jesus e em todos aqueles que encarnam o Cristo Cósmico. Desse Filho procede a centelha divina, que se encontra nos homens espirituais. O terceiro Princípio corresponde ao Espírito Santo. Em seu desdobramento inferior é o Princípio divino no tempo, a Alma do Mundo, a Natureza e o Criado.

Os gnósticos afirmavam que os judeus conheceram o terceiro Princípio em seu produto inferior, que é o Demiurgo e apenas através da revelação da Bíblia hebréia. Afirmavam também que os cristãos normais não vão além do segundo Princípio, somente os gnósticos, os espirituais, chegariam ao primeiro Princípio.

Para os seguidores do esquema diádico, a metafísica dos princípios é: o "Deus Supremo" é um Intelecto que é bom, o equivalente ao segundo Princípio dos sistemas triádicos acrescido do Bem. O "Segundo Deus" ou princípio do Cosmos, equivale ao terceiro Princípio dos sistemas triádicos ou Alma da Mundo. Este "Segundo Deus" se desdobra em dois subprincípios um inteligível e outro sensível.

À ramificação triádica da tradição platônica pertencem os neopitagóricos, os valentinianos, os basilidianos e Plotino. Ao ramo diádico pertencem Filón, Numenio, Albino e Poimandres e, entre os gnósticos: os sethianos e Justino Gnóstico. Os teólogos da ortodoxia cristã antes do Concílio de Nicéia são teologicamente trinitários, porém filosoficamente diádicos. Pode-se reconhecer, também, nas diversas escolas ou correntes influências de outras tradições filosóficas, em particular do estoicismo.

Para os sethianos, os Princípios (Intelecto/Alma do Mundo) não são concebidos como substâncias. Há uma multiplicidade de graus ou estratos de emanação descendente da divindade:

1. Primeiro estrato - Formado pelo Uno.
2. Segundo estrato - Os Eons Superiores Femininos - O sujeito deste estrato recebe o nome de Barbeló. Barbeló se "ergue" diante do Espírito Transcendente e é definido como sua Imagem e seu Pensamento. Ela recebe os nomes de Inteligência, Providência, Incorruptível, Vida Eterna e Verdade. Barbeló vai desempenhar a função de Princípio dos estratos inferiores e Princípio do Universo.
3. Terceiro estrato - Os Eons Superiores Masculinos - O sujeito deste estrato recebe o nome de Unigênito e Filho. Os Eons do segundo e terceiro estratos formam o Pleroma Superior que virá a ter o momento de queda ou "deficiência".
4. Quarto estrato - Os Eons do Pleroma Inferior - estes Eons foram engendrados pelo Deus que foi engendrado, o Cristo.
5. Quinto. estrato - o Eon Sabedoria - A função da Sabedoria (Sophia) é a criação do universo, é a "mãe do universo". Sabedoria é "a que olhou para baixo". Esta descida da Sabedoria é concebida como "inocente".

Há dois motivos para a queda da Sabedoria: primeiro, produz uma obra sem o consentimento do Pai e, segundo, o faz separada de seu consorte. O resultado desta ação é um trabalho imperfeito, o Arconte demiúrgico ou uma sombra que, através da matéria, produz o arconte Demiúrgico. Em função desta obra, a Sabedoria é denominada material (gr. Hylikós).

A Sabedoria busca a luz que a havia porém não pode alcançá-la por causa do impedimento do Limite. Por não poder ultrapassá-lo, por continuar misturada à sua paixão e, ao permanecer abandonada fora do Pleroma, a Sabedoria cai em todo tipo de paixões, multiformes e variadas. Destas paixões (também divinas), nasce a primeira matéria, primordial e inteligível, não sensível, tem origem o Demiurgo. As demais coisas nasceram de seu temor e de sua tristeza. Das lágrimas da Sabedoria vieram as substâncias úmidas; de seu riso, a sabedoria luminosa; de sua tristeza e de seu estupor, os elementos corporais do mundo.

Esta matéria primordial não é o mundo corpóreo, porém o substrato a partir do qual se plasmará o mundo corpóreo. O mundo visível será criado, posteriormente, pela Sabedoria de modo indireto, graças ao Demiurgo.

Fonte: http://www.gnosisonline.org/Teologia_Gnostica/index.php

Um comentário:

raph disse...

Opa, muito obrigado o texto é bastante informativo.

Sobre o que havia me perguntado:

Na verdade uso ainda o template antigo do blogger, mas o código é simples, basta inserir o html e onde entraria a url do post atual, trocar pela variável que monta essa informação no blogger:

[a href="http://del.icio.us/post?url=<$BlogItemPermalinkUrl$>" target="_blank"][img src="http://yourserver.com/images/imgIcon01.gif" title="Adicionar ao Delicious" alt="Adicionar ao Delicious" /][/a]

ps. Troquei "< >" por "[ ]" pq não aceita html no comentário.

Abs
raph

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails