5 de jan. de 2011

O QUE SÃO YAMAS E NIYAMAS

Por: Henrique Saad

É comum lutarmos contra o “mundo”, ir contra a maré, nos irritarmos com aquilo que não está conforme nossas vontades e expectativas, pois frequentemente carregamos uma boa porção de ego em nossas atividades, um ego que nos traz uma falsa sensação de individualidade e desconexão com o restante do mundo. Esse sentimento de desconexão, que muitas vezes nem percebemos, é uma das causas primordiais do sofrimento humano (kleshas).

Milhares de anos atrás, na Índia, buscadores espirituais buscaram meios para eliminar as causas primordiais de sofrimento e, culminaram num método integral para harmonizar o corpo, mente e espírito. Esse método ficou conhecido como Yoga e, esses milenares buscadores espirituais conhecidos como Yogis, verdadeiros cientistas da época que, através da observação direta e reflexão, sistematizaram um caminho para viver em paz e plenitude.

Nos dias atuais, no Ocidente, esse método foi restringido muitas vezes à prática de posturas físicas (asanas), esquecendo-se de todo o resto do caminho, que é tão importante no processo de integração do indivíduo com o Universo em que ele está inserido.

Yamas e Niyamas fazem parte desse método e são poderosas ferramentas que, se aplicadas sinceramente na vida prática, nos guiam no sentido da ação correta, da ação virtuosa, que nos faz percorrer a jornada da vida com paz e sabedoria.

Patanjali, um sábio indiano, compilou as principais técnicas de yoga praticadas em sua época (provavelmente 150 d.C.) no texto Yoga Sutras, aonde sistematizou oito passos essenciais neste caminho para o estado de equilíbrio:

1 – Yamas (restrições externas)
2 – Niyamas (observâncias internas)
3 – Asana (posturas físicas)
4 – Pranayama (controle da energia vital por meio da respiração)
5 – Pratyahara (introversão dos sentidos)
6 – Dharana (concentração)
7 – Dhyana (meditação)
8 – Samadhi (estado de superconsciência)

Então, vemos que os Yamas e Niyamas são os primeiros passos mencionados por Patanjali na busca deste estado de equilíbrio interior. Constituem a verdadeira base para trilhar com harmonia esta jornada de autoconhecimento, que permitirá ao Yogi gradualmente se reconectar com a essência que está dentro de si e dentro de todas as coisas.

Yamas e Niyamas são condutas éticas que, se colocadas na vida prática, nos permite superar os obstáculos criados pelo ego, livrando-nos de pesos desnecessários criados pela mente e assim finalmente viver em paz.

Yamas são comumente traduzidos como "restrições externas". São ideais que orientam as nossas relações com o mundo externo, almejando um estado de paz e equilíbrio. Os Yamas mais conhecidos são:

Ahimsa: não violência em pensamento, palavras e atos. Fumar, por exemplo, pode ser visto como um ato de agressão contra si mesmo e aos demais que estão ao redor. Respeitar os seus limites durante a prática de Yoga também é visto como um ato de ahimsa.

Satya: verdade em pensamento, palavras e atos. O seu eu exterior e seu eu interior passam a agir em harmonia, em vez de idéias contraditórias. Por exemplo, quando sabe que errou em alguma situação, seja sincero com todos e peça desculpas. Manter uma aparência externa que não condiz com a sua consciência interna só lhe trará conflitos psicológicos desnecessários.

Asteya: não roubar em pensamento, palavras e atos. Por exemplo, um professor que chega constantemente atrasado para dar aula está roubando o precioso tempo de seus alunos, que tiveram consideração de chegar com antecedência. E vice-versa.

Aparigraha: ausência de ganância em pensamento, palavras e atos. Significa não possuir coisas desnecessariamente. Será que o seu último tapetinho decorado de yoga é tão necessário assim? Ou é apenas para fazer um estilo que lhe traz um peso desnecessário?

Brahmacharya: a conduta que leva a Brahman, a essência que permeia tudo e de todos. Significa não desperdiçar o uso de nossos sentidos excessivamente em atividades mundanas, mas sim utilizá-los para perceber a própria essência que as constitui. Fechar os olhos e manter uma atenção serena sobre o exato momento talvez torne mais fácil a compreensão da essência das coisas. Olhar-se no espelho e comparar sua asana com a de seu colega parece não ser tão importante assim, entende?

Niyamas são comumente traduzidos como "observâncias internas". São ideais que orientam as nossas relações com o mundo interno, almejando um estado de paz e equilíbrio.Os Niyamas mais conhecidos são:

Saucha: pureza do corpo e mente. Por exemplo, não basta apenas um banho para remover nossas impurezas físicas. Ainda mais importante é o banho mental para remover as impurezas e sentimentos negativos acumulados. Limpar o externo sem limpar o interno de nada vale para uma vida em paz. A prática integral de yoga pode ser vista como um excelente exemplo de purificação do corpo e mente.

Santosha: contentamento. Apreciamos o presente do jeito que ele é e não como “deveria ser”. Apreciamos cada momento que nos é dado nessa vida independente das circunstâncias, sejam elas aparentemente positivas ou negativas. Praticando Yoga, por exemplo, podemos nos contentar com o grau de flexibilidade de que temos hoje em vez de ultrapassar nossos limites a ponto de se machucar. O contentamento lhe permite finalmente relaxar e apreciar o presente da forma que ele é, aproximando-o cada vez mais de sua essência.

Tapas: austeridade. Esforço pelo qual criamos um fogo purificador que aumenta nossa confiança e força de vontade. Por exemplo, acordar diariamente antes de o sol nascer para meditar pode ser considerado uma forma de tapas.

Svadhyaya: estudo dos textos espirituais e de si mesmo. Todo conhecimento envolve reflexão que influencia nossos próprios comportamentos e maneira de pensar. Estudo sem reflexão é apenas uma coleta desnecessária de informações mal-digeridas.

Ishvara pranidhana: devoção, ou constante atenção sobre a presença Divina. É reconhecer que toda a criação é uma manifestação da consciência Divina. Ao comermos, ao escutar uma música, ao respirar, ao meditar podemos nos lembrar da existência dessa energia suprema que sustenta tudo e todos.

Enfim, yamas e niyamas constituem a verdadeira base para trilhar a vida em harmonia, com os outros e consigo mesmo. Eles não são mandamentos cuja quebra seria considerada um “pecado”. São apenas meios para percebermos que toda ação tem sua conseqüência e que podemos naturalmente aprender com essas conseqüências se levarmos a vida com sabedoria e simplicidade.

Que tal refletirmos sobre como vivenciá-los em sua plenitude? A chegada do novo ano é um momento propício para refletirmos e, com o coração aberto, tentarmos nos tornar, apenas, pessoas simples e de bem com a vida.

Feliz 2011!

Hari Om


Fonte: Portal Yoga Brasil

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